2019-08-01 14:09:51
Raquel Fernandes
Persistência e esperança. Estas são as características mais fortes de uma associação formada por 12 agricultores familiares indígenas da Aldeia Limão Verde que, em uma área de 2 hectares, diariamente se dedicam ao plantio e cultivo de milho, feijão, hortaliças e recentemente iniciaram os trabalhos com o aviário para frangos de corte.
O capitão da Aldeia, Nelson Castelão é um dos produtores. Ele conta que o desejo de fortalecer a produção de alimentos na Aldeia, tanto para consumo quanto para venda, fez com eles se unissem nesta associação. Batizada com o nome de Tapy’i ñemoheñoi, que em português, significa “Fortalecimento do nosso Território”, a associação foi formada no início deste ano.
“Nós sofremos para começar esse trabalho. No início, a seca nos obrigou a parar e nós não tínhamos água suficiente nem para o nosso consumo. A alguns meses retomamos o nosso trabalho, juntamos dinheiro e conseguimos montar o nosso aviário.”, conta Nelson, ressaltando que apesar de tantas dificuldades eles persistiram com as atividades.
Prestes a iniciar o plantio do feijão novamente, o capitão relembra a primeira produção. “A nossa primeira plantação de feijão rendeu 30 quilogramas, que foram consumidos aqui pela associação. Foi pouco para que a gente pudesse vender, mas foi muito bom para nós”.
Em metade da área destinada à agricultura, os indígenas irão plantar o milho e no restante será cultivado o feijão. A terra já foi gradeada com o trator que a Funai (Fundação Nacional do Índio) disponibiliza para as comunidades indígenas.
Na horta da comunidade, é possível encontrar alface, couve e tomate. Neste mês, as hortaliças sofreram com a geada, que limitou a produção. “Nós vendemos as verduras para os moradores aqui da aldeia mesmo, eles sempre vem aqui para comprar”, conta.
Toda renda gerada pelas atividades pertence à associação e tem sido utilizada para manter as atividades rurais. “Queremos montar uma sede para nossa associação, um centro comunitário. Por enquanto ainda não estamos conseguindo nenhum recurso ou incentivo como associação, para nós produzirmos. Aos poucos, vamos estruturando, mas ainda falta muito”, conta Nelson, acrescentando que em breve deverão começar a cultivar melancia.
Aviário
Há alguns meses, a associação se dedicou na construção do aviário. Nelson conta que eles compraram 200 pintinhos e 70 morreram, mas conseguiram vender todos os frangos que restaram desta primeira etapa. Recentemente adquiram mais 120 pintinhos, mas o frio intenso fez com que mais de 80 morressem.
“Nós vamos continuar com as atividades, estamos mantendo estes que sobraram e vamos utilizar para o nosso próprio consumo” informa Nelson acrescentando que assim que possível ele irão adquirir mais pintinhos e fortalecer as vendas.
Escassez de água
Entre todos os desafios que a agricultura familiar da Aldeia Limão verde enfrenta, um deles se sobressai: a escassez de água. A prefeitura de Amambai construiu um poço semi artesiano que amenizou o problema, mas ainda há períodos do dia que não tem água disponível para os moradores. Por conta disso, a comunidade precisa economizar ao máximo para que seja possível utilizar a água tanto para as atividades agrícolas quanto para o consumo das famílias.
“O nosso maior problema é água. A Funasa fornece água, mas não é suficiente para nossa produção. É trabalhoso deixar a nossa horta sempre regada”, conta Nelson.
Agricultura familiar
Além da associação, na Aldeia limão verde também há outros produtores. Este é o caso do senhor Delossanto Martins. Em sua área, ele cultiva milho, feijão, erva-mate, mandioca, melancia, banana, entre outras frutas.
Com muito bom humor, Delossanto recebeu a equipe de reportagem do Jornal A Gazeta e mostrou toda sua produção. Ele diz que sempre acaba doando o que produz para quem precisa. “A gente tem que se ajudar”, destaca.
Além da escassez de água, Delossanto aponta a falta de recursos para adquirir calcário e adubo para deixar a terra mais produtiva, como um grande desafio a ser vencido pela agricultura familiar das comunidades indígenas.
Sem tecnologias, plantadeiras modernas e com a limitação do uso da água, os indígenas têm conseguido produzir para o sustento de suas famílias e almejam com muita esperança melhorar a produção para fortalecer cada vez mais o território.
O capitão Nelson Castelão conta que tem buscado junto ao poder público formas de incentivo.