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terça-feira, 16 de abril de 2024

Especialistas defendem investimento contra fake news

2021-11-29 13:07:08

Por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o envio em massa de mensagens com informações falsas nas eleições de 2022 será considerado abuso de poder econômico — motivo que leva à cassação imediata do político que se envolver na prática. As chamadas fake news, que dominaram as redes na eleição de 2018, entram na mira da mais alta corte da Justiça Eleitoral. No entanto, as dificuldades ainda são colossais e o tribunal se prepara para enfrentar o desafio que é garantir a lisura das eleições. Especialistas ouvidos pelo R7 apontam a necessidade de investir em tecnologia para identificar infratores e destacam que ninguém está livre de ser encontrado pelas autoridades.

Apesar de existirem camadas mais profundas na internet, que não podem ser acessadas por meio de navegadores comuns, todo passo no ambiente virtual deixa algum dado. A Polícia Federal e outras instituições públicas têm ferramentas que podem refazer o caminho de um criminoso que usa o meio cibernético como palco para realizar ataques e irregularidades. A produção de fake news não foge a essa regra. A edição de fotos, vídeos, áudios e até mesmo a criação de textos e páginas deixam pegadas que podem ser identificadas para chegar fisicamente ao criminoso.

No processo que analisou para tratar de disparos em massa nas eleições de 2018, o TSE considerou que havia ficado evidente que a prática ilegal tinha ocorrido. No entanto, os ministros entenderam que os autores das ações que apontaram irregularidades falharam ao não anexar eventuais mensagens em massa disparadas. Ou seja, foram denunciados a estrutura e o modus operandi dos disparos em massa, mas não foi incluído nos autos o resultado prático, que poderia gerar fraude e abuso de poder econômico.

Dionísio Silva, consultor da TFI Brasil para Tecnologia da Informação e Comunicação e Big Data, destaca que a tarefa de encontrar criminosos especializados na prática de fake news, embora exija esforços humanos e tecnológicos, é plenamente possível. “Hoje há softwares capazes de averiguar adulterações em imagens, vídeos e áudios que tenham sido modificados por intermédio de códigos que façam parte da originalidade daqueles arquivos. Como todos esses arquivos têm uma espécie de DNA, os softwares conseguem perceber distorções na imagem, alteração na frequência do áudio e distorções nos vídeos, desvendando os elementos falsos ou conflitantes encontrados em cada um deles”, diz Dionísio.

O especialista destaca que os rastros são deixados não só por quem cria o conteúdo fraudulento, mas também por quem o compartilha — provas que podem atingir candidatos, equipes de campanha e integrantes de partidos —, e isso pode resultar na cassação dos eventuais eleitos com base em fake news. “É possível localizar o IP do computador ou qualquer dispositivo que enviou a mensagem, inclusive de quem a publicou e de quem possivelmente a compartilhou. Essa tecnologia pode até mostrar quantas vezes as mensagens foram compartilhadas e cada uma das pessoas que distribuíram a fake news”, explica Dionísio.

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ARTE/R7

Ao longo dos últimos anos, com a evolução das tecnologias usadas para reconhecer rostos, captar dados para publicidade, pesquisa e evolução do algoritmo — sequência lógica que se baseia no comportamento do usuário para oferecer conteúdo —, as práticas criminosas também se tornaram mais sofisticadas. Um dos riscos é que edições quase fiéis à imagem real de políticos, personalidades e até anônimos, juntamente com alterações de som para reproduzir a voz das pessoas, sejam usadas para confundir a cabeça dos eleitores e imputar declarações a quem nunca as fez.

A prática, conhecida como deepfake, utiliza inteligência artificial para criar vídeos falsos de pessoas reais. Ao mesmo tempo que os criminosos, chamados de crackers, elevam sua gama de ferramentas, especialistas, corporações policiais e organizações investigativas também avançam nesse campo. Uma ferramenta criada pela Universidade de Samara, na Rússia, identifica distorções nas imagens para indicar edições. O programa está sendo usado para avaliar, por exemplo, fotos de lançamentos de mísseis pela Coreia do Norte, a fim de verificar a veracidade dos registros e apontar a real capacidade de ataque do país oriental.

O Facebook apresentou um projeto que foca a desarticulação de deep fakes. O algoritmo encontra falhas e assinaturas além da imagem original que apontam as fraudes. “Para desenvolver o sistema, foi usada a técnica conhecida como engenharia reversa, que consiste em desconstruir a fabricação de um produto. Nesse caso, um vídeo ou uma foto”, explica Dionísio Silva. Existem modelos que estão há mais tempo no mercado. Um deles é o Video Authenticator, lançado pela Microsoft, que detecta deep fakes em vídeos.

 

 

De acordo com a empresa, a ferramenta foi lançada pelo Programa de Defesa da Democracia, que tem como objetivo combater a desinformação que ameaça regimes democráticos em todo o mundo. O lançamento ocorreu antes da eleição nos Estados Unidos. O especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna afirma que é fundamental investir em contingentes de analistas forenses e campanhas de conscientização para combater a difusão de conteúdo falso nas eleições. “É possível [combater] desde que seja feita uma força-tarefa com profissionais para esse trabalho. Figuras como Analistas Forenses Digitais, por exemplo, passam a ter um papel fundamental. Por outro lado, também é importante que haja um trabalho intenso de conscientização e a participação da comunidade para denunciar as fake news”, afirma ele.

 

 

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Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública, destaca a necessidade de preparo para combater fake news

DIVULGAÇÃO

Camadas profundas

Além da internet comum, onde está a maior gama de informações e dados, a rede mundial de computadores tem camadas mais profundas, com acesso mais restrito, onde são planejados ataques e transmitidas informações, que acabam se tornando um espaço para a venda de pacotes de disparos em massa e produção de notícias falsas. A deep web e a dark web são acessadas apenas via link, e muitas páginas, somente por meio de convites específicos.

No entanto, apesar de prometerem proteção contra as autoridades, a deep e a dark web deixam um rastro de navegação. Os navegadores utilizados pelos usuários mascaram, trocam os endereços codificados dos computadores (IPs) e até trocam constantemente esses dados para impedir a localização. No entanto, a Polícia Federal e outros órgãos também navegam por esses espaços, e ferramentas de engenharia reversa podem refazer o caminho de quem cria conteúdo nesses locais virtuais.

As empresas que gerenciam aplicativos de mensagens e redes sociais são responsáveis pelas políticas de combate às fake news. No entanto, a advogada Jessica Marques, especialista em direito digital, destaca que algumas vezes as regras das empresas dificultam o trabalho de investigação. “As fake news geram consequências gravíssimas tanto na esfera pessoal quanto na esfera pública. Quem as cria e compartilha pode ser responsabilizado pelo crime. Temos várias delegacias especializadas que, por meio de perícia, podem identificar alterações e chegar aos autores. Mas há aplicativos que, em razão da proteção de dados, dificultam a localização dos autores. A privacidade deve ser protegida, mas ela não abarca atos criminosos”, diz.

 

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