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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Saiba como proteger e conversar com crianças sobre abuso sexual

2020-09-23 13:44:58

De cada dez casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, pelo menos sete ocorrem dentro do ambiente doméstico e são cometidos por algum conhecido da vítima. Só em 2019, foram registradas 17.093 denúncias de assédio sexual contra menores de idade no país. Os dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100, chamam atenção para a necessidade de se conversar com as crianças sobre o que é abuso sexual. A conversa, no entanto, ainda é recebida com resistência por muitas famílias. 

Para a psicanalista Elisama Santos, a conversa sobre prevenção do abuso infantil enfrenta barreiras de falta de informação: "Existe uma confusão entre o que significa falar sobre os limites do corpo e falar sobre sexo", explica a autora do livro Educação não Violenta. Segundo a psicóloga, o medo de ofender familiares e conhecidos acaba se sobrepondo ao diálogo aberto. 

"A gente acredita que isso não vai acontecer dentro da nossa casa, só na do outro. Para alguns pais, iniciar essa conversa é o mesmo que dizer que não tem confiança no meio onde os filhos estão." 

Já a neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento Deborah Moss defende que se dialogue com as crianças sobre o que é consentimento e quais atitudes são apropriadas vindas de um adulto justamente para que elas saibam identificar uma atitude maliciosa e tenham confiança para pedir ajuda. 

"O abuso pode vir disfarçado de carinho sem que necessariamente a criança compreenda o que aquilo significa. Há adultos que só se dão conta de que foram abusados após retomar as vivêncais da infância, mas que, na época, entendiam como formas de afeto", explica. De acordo com a especialista, a conversa pode ser introduzida aos poucos, de acordo com a faixa etária e o nível de compreensão dos filhos. "Não é preciso ter uma reunião de família para conversar sobre o tema, mas iniciar a conversa através de livros, bonecos e brincadeiras para que a criança entenda quais limites devem ser respeitados." 

Para as duas especialistas, algumas atitudes simples podem ser tomadas para ensinar, desde cedo, o que é consentimento e qual sua importância na vida da criança. Veja, a seguir, dez dicas para dialogar com os filhos sobre abuso sexual. 

1. Definir o nome dos órgãos genitais, como e quando devem ser tocados

Segundo a mestre em psicologia do desenvolvimento Deborah Moss, é importante que as crianças não apenas saibam como nomear apropriadamente os órgãos genitais como quais toques são aceitáveis ou não: "A criança tem que entender quais partes do corpo os responsáveis podem tocar e com que finalidade, como limpar ou medicar, por exemplo."

2. Explicar o motivo do toque em situações necessárias

"Vou tocar seu bumbum para te limpar", é um exemplo de frase dado pela psicóloga Elisama Santos. Segundo ela, a explicação também pode ser dada em consultas médicas para que a criança entenda qual ação será realizada em seu corpo. Os pais podem pedir aos profissionais para explicar cada procedimento em voz alta, de maneira a respeitar a autonomia da criança. 

3. Não obrigar a beijar e abraçar

Em reuniões familiares, é comum que a criança leve uma bronca dos pais ao se recusar a abraçar ou beijar um parente. Embora para muitos pais a recusa pareça "birra", respeitar a decisão é importante para que os filhos entendam que podem se negar a ter o corpo tocado. 

4. Não "barganhar" o afeto da criança

Entre as atitudes inocentes de muitos familiares, oferecer presentinhos e doces em troca da um abraço ou beijo está entre as mais comuns. Acontece que, segundo as piscólogas Elisama Santos e Deborah Moss, essa atitude pode dar a entender que é natural trocar carícias por presentes, o que pode tornar a criança mais vulnerável a um possível abuso. 

5. Diferenciar "segredo bom" e "segredo ruim"

Para Elisama Santos, uma maneira de explicar aos filhos por que, caso algum adulto peça segredo sobre uma atitude, ele não deve ser guardado é diferenciar o "segredo bom" e o "segredo ruim". 

"Gosto de explicar que o segredo bom é aquele que tem uma data para acabar em breve, como uma festa surpresa. Já o segredo ruim, como um abuso, é aquele que faz com que a criança se sinta angustiada".

Elisama também chama atenção para a importância de comunicar aos familiares que não deve haver segredo entre a criança e os responsáveis. 

6. Não fotografar sem autorização 

Na era dos registros para as redes sociais, os pais nem sempre se dão conta de que o consentimento da criança para ser fotografada também deve ser levado em conta. 

Para a psicóloga Deborah Moss, a conversa toma contornos ainda mais sérios: "Muitos abusadores já cometeram crimes sem sequer encostar na criança. Por isso, é importante explicar que ninguém pode fotografar suas partes íntimas, por exemplo." 

7. Parar a brincadeira quando a criança pedir 

O respeito aos limites durante as brincadeiras, como no caso das cócegas, são imprescindíveis para que a criança entenda que pode traçar limites: "É importante que ela aprenda que pode dizer ‘não’, desde que seja com educação", explica Elisama. 

8. Ensinar a respeitar os limites dos coleguinhas 

Para a psicóloga Elisama Santos, que também é mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6, a educação a respeito do abuso sexual passa não só por entender os próprios limites, como respeitar os dos outros. "O esforço também vem para desconstruir o que vem de fora", explica. "Observo o comportamento de assédio nas ruas e explico o quanto aquilo é desrespeitoso e como ele também não pode forçar brincadeiras com os amiguinhos ou tocar o corpo deles sem consentimento." 

9. Estabelecer um "código" em caso de ameaça

Segundo Deborah Moss, um método que pode ser usado para auxiliar crianças a comunicarem situações de risco é criar um código ou palavra secreta para que ela possa comunicar ao responsável de confiança o que está acontecendo.

10. Não duvidar e prestar atenção aos sinais 

De acordo com Elisama, a atenção para as mudanças de comportamento também é importante para detectar possíveis situações de abuso. "Se a criança está mais calada, ou se encolhe quando chega uma pessoa diferente, por exemplo, são sinais para prestar atenção.

Segundo a psicóloga, a consideração pela palavra dos filhos também é importante para que eles estabeleçam uma relação de confiança. "Se a criança conta algo e eu duvido ela, ela vai parar de contar", conclui.

 

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