A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), que completa três décadas de história em 2024, não disponibilizou vagas gerais para a unidade de Amambai no último vestibular, realizado no dia 24 de novembro. Conforme informou o reitor da UEMS, Laércio Carvalho, a unidade vai concentrar sua oferta em cursos de Pedagogia Intercultural e Agroecologia, para públicos específicos, como indígenas e assentados da região.
Antes da transição para os cursos interculturais, a unidade da UEMS em Amambai oferecia as graduações de História e Ciências Sociais, que permaneceram em funcionamento por períodos extensos — cerca de 20 anos para História e mais de uma década para Ciências Sociais. Essa continuidade acabou saturando o mercado e desestimulando novas demandas. Anteriormente, a UEMS havia oferecido também cursos como Letras e Matemática, mas com ciclos menores de duração na unidade. As turmas que ingressaram nesses cursos até 2023 terão continuidade para concluir suas graduações no período noturno. Os novos cursos funcionarão exclusivamente no período diurno.
Embora a iniciativa de incluir públicos historicamente marginalizados no ensino superior seja positiva, surgem questionamentos sobre a ausência de vagas para ampla concorrência. A professora formada na primeira turma de Letras da UEMS de Amambai e atual editora do Jornal Gazeta Educação, Patrícia Rocha, destacou a relevância de incentivar a presença indígena e assentada na universidade, mas lamenta a exclusão do público geral.
“É fundamental que esses públicos tenham acesso à educação superior e sejam incentivados para isso. Porém, é igualmente importante que a universidade continue atendendo a todos, sem excluir nenhum grupo.”
Uma estudante do ensino médio do município de Amambai ficou triste de saber que não terá nenhuma universidade pública presencial para que ela possa ingressar no ensino superior. “Eu tinha expectativas de que viria um curso novo para UEMS de Amambai, como direito, mas agora fiquei sabendo que não terá nenhum para público em geral. Eu acho importante que a universidade seja realmente de todos. Tem que incluir todos os públicos.”
O que diz o Reitor
O reitor da UEMS, Laércio Carvalho, explicou que a transformação da unidade de Amambai em polo intercultural foi resultado de um longo processo de análise e planejamento. A decisão levou em conta a demanda da comunidade, o compromisso da UEMS com inclusão e diversidade, parcerias com comunidades indígenas para um projeto pedagógico culturalmente alinhado e a viabilidade financeira e estrutural para cursos interculturais. Laércio também destacou os desafios enfrentados na descontinuação de cursos tradicionais como História e Ciências Sociais, apontando para fatores como baixa demanda e a necessidade de reestruturação curricular.
“A priorização de cursos como Pedagogia Intercultural e Agroecologia reflete os objetivos estratégicos da instituição e as demandas regionais. No entanto, estamos atentos à possibilidade de oferecer novas formações que contemplem diferentes perfis de estudantes no futuro.”, disse à reportagem.
Perspectivas e impactos
Os cursos interculturais têm gerado impactos significativos na região. De acordo com o reitor, “a formação de professores indígenas contribui para a valorização das culturas e línguas locais, enquanto a capacitação em Agroecologia impulsiona práticas produtivas sustentáveis, fortalecendo a economia e promovendo maior qualidade de vida nas aldeias e comunidades assentadas.” Apesar do progresso, a UEMS declarou à reportagem do Jornal Gazeta Educação que irá avaliar constantemente a inclusão de novos cursos. A possibilidade de formações noturnas para ampliar o acesso foi mencionada como um caminho para equilibrar inclusão e universalidade. Enquanto isso, para muitos estudantes de Amambai, o sonho de ingressar na única universidade pública estadual da cidade continua vivo. A expectativa é que, nos próximos anos, a UEMS retome a oferta de vagas em ampla concorrência, consolidando seu papel como agente de transformação para toda a comunidade.