O Banco Central anunciou nesta semana uma nova redução na taxa básica de juros, que passou de 11,25% para 10,75% ao ano. Esta é a sexta queda seguida da Selic desde agosto do ano passado, e há sinalização para mais cortes de 0,5 ponto percentual. Mas como isso influencia a vida da população? O R7 conversou com especialistas que avaliaram os principais impactos positivos e negativos no dia a dia dos brasileiros.
O novo patamar dos juros – o menor desde fevereiro de 2022 – tem potencial de baratear o custo dos financiamentos e reduzir a cobrança do cheque especial e do cartão de crédito, mas, por outro lado, pode fazer com que investimentos atrelados à taxa básica deixem de ser tão interessantes.
Veja a seguir como o corte dos juros pode afetar a sua vida:
Crédito mais barato
A redução da taxa de juros torna o crédito mais barato, incentivando o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Para o cidadão comum, isso significa acesso a empréstimos e financiamentos com juros menores, o que pode facilitar a compra de bens de maior valor, como imóveis e veículos, ou permitir a renegociação de dívidas existentes em condições mais favoráveis, explica Hugo Garbe, economista e especialista em Finanças.
“Essa diminuição dos custos de financiamento pode estimular a atividade econômica, contribuindo para a criação de empregos e melhoria da renda”, afirma Garbe.
Segundo o economista e especialista em educação financeira Newton Marques, a queda da Selic dá um “certo alívio” e faz com que a atividade econômica possa seguir seu curso sem interrupção. “Há uma expectativa de que pode ser mantido o nível de emprego ou mesmo reduzindo o desemprego. Isso é o que é se espera”, diz.
Cartão de crédito rotativo e cheque especial
Principal instrumento de controle da inflação, a Selic afeta todas as demais taxas praticadas pelo mercado, desde as taxas de empréstimos pessoais, de financiamentos imobiliários, do cartão de crédito, do cheque especial, até os empréstimos para as empresas.
Marques explica que, em relação à taxa de juros mensal do cartão de crédito rotativo e do cheque especial, a tendência é que haja uma redução, mas não necessariamente na mesma magnitude.
Em janeiro, a taxa média de juros do rotativo do cartão de crédito caiu 26,8 pontos percentuais e chegou a 415,3% ao ano, menor nível desde dezembro de 2022.
Como as taxas são influenciadas por diversos fatores, entre elas a percepção de risco, políticas internas dos bancos e outras variáveis de mercado, a queda no cartão de crédito e no cheque especial pode não ser imediata ou tão acentuada quanto a da Selic.
“Com a Selic a 10,75% ao ano, isso não quer dizer obviamente que esse juro do cartão de crédito anual acabe se aproximando, mas deve reduzir em relação ao que está sendo praticado”, afirmou.
Crédito imobiliário
O corte de juros também pode tornar o crédito imobiliário menos custoso. Isso ocorre porque muitos dos financiamentos imobiliários no Brasil têm suas taxas atreladas a indicadores econômicos que, por sua vez, são influenciados pela Selic. Ou seja, quando ela cai, os juros dos financiamentos tendem a acompanhar essa tendência, podendo resultar em prestações mais baratas para novos contratos de financiamento ou mesmo para aqueles com taxas de juros variáveis.
“Além disso, em um ambiente de juros mais baixos, o acesso ao crédito pode se tornar mais amplo, facilitando a aquisição da casa própria para uma parcela maior da população. Esse cenário favorece não apenas quem busca comprar imóveis mas também estimula o setor da construção civil, com potenciais efeitos positivos sobre o emprego e a economia como um todo”, ressalta Garbe.
Investimentos
A Selic também impacta diretamente o rendimento dos investimentos no mercado financeiro, já que diversas aplicações financeiras têm seus rendimentos calculados a partir da taxa de juros, como é o caso de alguns tipos de investimento, CDBs e a poupança. Nesses casos, segundo Garbe, o retorno dessas aplicações tende a diminuir.
“Isso significa que o rendimento desses investimentos será menor, afetando principalmente os investidores conservadores que priorizam a segurança e a previsibilidade dos seus retornos financeiros”, disse.
Impactos são imediatos?
Os impactos da queda da Selic na vida do cidadão não são necessariamente imediatos, explicam os especialistas. Garbe afirma que, enquanto a redução nas taxas de juros de empréstimos e financiamentos pode ser percebida em um curto espaço de tempo, outros efeitos, como o estímulo ao consumo e ao investimento, bem como as alterações no rendimento das aplicações financeiras, tendem a se manifestar de maneira mais gradual.
“A população começa a sentir os efeitos tanto positivos quanto negativos dessa política monetária conforme as instituições financeiras ajustam suas taxas e condições de crédito, e conforme o mercado e a economia respondem a essas mudanças, o que pode levar de alguns meses a até mais tempo”, avaliou.
Segundo Marques, “há um efeito em curto prazo” já que as taxas se adaptam à redução da Selic. “A própria economia também acaba ditando um ritmo diferente do que era em um ritmo de elevação da taxa básica de juros”, afirmou.