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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Pesquisa usa genômica para enfrentar efeitos climáticos em gado leiteiro

Temperaturas extremas fazem Brasil perder anualmente cerca de 30% da produção de leite

O Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG) está concentrando esforços na avaliação da tolerância dos bovinos às condições climáticas, especialmente o calor, que tem impacto direto na produção de leite. Segundo a Embrapa, os valores genômicos dos touros da raça foram estimados considerando o Índice de Temperatura e Umidade (ITU), que sintetiza as condições de temperatura e umidade do ar. Isso significa que touros com maior valor genômico para essa característica são considerados mais resistentes ao calor. Situações com ITU entre 80 e 89 podem induzir estresse térmico severo nos animais, ocorrendo quando a temperatura ultrapassa 32°C e a umidade relativa do ar atinge 95%.

Com as mudanças climáticas e eventos como o El Niño, dias de calor extremo têm se tornado mais frequentes em todo o Brasil, especialmente na região Centro-Sul, onde está concentrada grande parte da produção de leite do país. Em 2023, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou nove ondas de calor, atingindo um pico no dia 19 de novembro, quando os termômetros na cidade mineira de Araçuaí marcaram a maior temperatura já registrada no Brasil: 48,44°C. Em tais condições, apenas 10% de umidade relativa do ar já seria suficiente para submeter uma vaca ao estresse térmico severo, resultando em redução na produção, problemas reprodutivos e até mesmo a morte dos animais.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG), Marcos Vinícius G. B. Silva, o país enfrenta anualmente uma perda de cerca de 30% na produção de leite devido às altas temperaturas, tornando a cadeia produtiva do leite vulnerável às mudanças climáticas. Para enfrentar esse desafio, o programa de melhoramento do Girolando tem se empenhado em oferecer rebanhos mais resistentes ao estresse térmico, por meio de avaliações genéticas e genômicas no teste de progênie da raça.

Silva destaca que o Gir Leiteiro, componente da raça Girolando, é notavelmente mais resistente ao calor em comparação com a raça Holandesa, que também contribui para o Girolando. O resultado do cruzamento entre as duas raças é um animal resistente e produtivo. Dentro da mesma raça, existem indivíduos mais resistentes do que outros. Ao longo dos anos, a Embrapa compilou uma base fenotípica sólida de animais resistentes, identificando essa característica dentro do genótipo individual. A partir disso, desenvolveu-se o PTA (avaliação genética de touros) para estresse térmico, que resultará em vacas mais resistentes.

A pesquisa que levou ao desenvolvimento do PTA analisou 650 mil controles leiteiros, coletando dados de produção de leite e ITU, obtidos por meio de estações meteorológicas nas propriedades. Esses dados foram relacionados aos genótipos de cada vaca por meio de uma metodologia estatística, revelando as diferenças genéticas na resposta dos animais às diferentes combinações de temperatura e umidade ao longo do período avaliado.

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