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Mulheres sem candidato, Ciro em alta no Nordeste e Bolsonaro consolidado: o que diz a nova pesquisa eleitoral

2018-09-19 08:02:00

Liderança de Ciro no Nordeste, desidratação de Marina, consolidação de Bolsonaro e mulheres em dúvida.

Com a saída do ex-presidente Lula da corrida eleitoral, o atentado a faca contra Jair Bolsonaro e as propagandas de rádio e TV em andamento, a pesquisa Datafolha divulgada na segunda-feira mostra uma série de movimentações do eleitorado, que busca se definir em uma das campanhas mais imprevisíveis que o país já enfrentou.

O levantamento mostrou uma oscilação positiva do candidato do PSL, que lidera a corrida ao Planalto.

De acordo com o Datafolha, Bolsonaro tem 24% das intenções de voto, contra 22% na pesquisa anterior, de 22 de agosto.

Em segundo lugar aparece Ciro Gomes (PDT), que subiu de 10% para 13%. Ciro está tecnicamente empatado com Marina Silva (Rede), preferida por 11% dos entrevistados, Geraldo Alckmin (PSDB), com 10%, e Fernando Haddad (PT), com 9%, substituindo Lula.

Os demais candidatos não ultrapassam 3% das intenções de voto. A pesquisa Datafolha ouviu 2.804 pessoas nesta segunda-feira. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

A BBC News Brasil analisou os relatórios e mostra as tendências eleitorais apontadas pelo Datafolha.

Uma em cada duas mulheres ainda não sabe em quem vai votar

Quando a pergunta é feita sem mostrar uma cartela de respostas, 46% das mulheres dizem não saber em quem votar. É quase o dobro da indefinição entre os homens, de 26%. Como as mulheres representam 52% do eleitorado, é razoável imaginar que elas definirão o pleito.

"BolsonaroDireito de imagemREPRODUÇÃO TWITTER FLÁVIO BOLSONARO
Image captionSe facada não aumentou votos de Bolsonaro, o atentado parece ter consolidado preferências no candidato do PSL

"A indefinição das mulheres é um dado histórico nas campanhas brasileiras", diz a cientista política Maria Hermínia de Almeida, da USP. No mesmo período em 2014, o patamar de indecisas ficava em 34%, de acordo com o mesmo instituto.

"A campanha eleitoral começou mais tarde e está muito indefinida. Não são as mulheres que demoram demais, os homens é que são muito afoitos para se definir", diz Fernandes.

A definição dessa fatia do eleitorado, no entanto, é fundamental para o destino da eleição. "Elas podem não só levar alguém para o segundo turno, mas garantir a vitória desse candidato na disputa", diz Fernandes. As mulheres, no entanto, não agem como um bloco e as tentativas de capturá-las feitas, sobretudo, por Marina Silva e por Geraldo Alckmin não têm se revertido em intenções de voto.

Metade do eleitorado feminino rejeita Bolsonaro

Na liderança da rejeição, o ex-capitão tem entre as mulheres seu maior desafio: se 43% dos eleitores dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, entre as mulheres esse patamar chega a 49%.

Nenhum dos demais candidatos é tão rejeitado pelo eleitorado feminino. O cenário faz do voto em Bolsonaro, uma decisão majoritariamente masculina. Com 24% da preferência na população em geral, entre os homens Bolsonaro atinge 32%, contra 17% das mulheres.

"É uma campanha de homem pra homem. É só arma, violência, ditadura. E Bolsonaro não está muito preocupado, parece que conta com a possibilidade de os maridos influenciarem as mulheres para votarem a favor dele", diz Almeida.

Se não ganhou votos após facada, Bolsonaro consolidou preferências

A primeira pesquisa após o atentado a faca contra o candidato do PSL mostrou uma oscilação positiva para o ex-capitão, dentro da margem de erro. Quando perguntados sobre sua escolha sem ver uma lista de candidatos, no entanto, o número de eleitores mencionando Bolsonaro subiu de 15% para 20%.

O crescimento de 5 pontos percentuais em respostas espontâneas significa que o deputado consolidou votos de parte de seus seguidores. Com esse patamar, ele estaria com vaga assegurada no segundo turno.

"A facada consolidou o posicionamento de quem era a favor e o de quem era contra. Aparecer no hospital fazendo sinal das armas não é algo que pegou bem para o eleitorado em geral", opina Fernandes.

Para Almeida, Bolsonaro demonstra ser uma candidatura de minoria expressiva, mas ainda assim, de nicho. "Com empatia ou sem empatia, a agenda dele é de um candidato de extrema direita, que não é historicamente uma posição majoritária no Brasil."

Ciro lidera no Nordeste

Ciro e Haddad devem disputar entre si as preferências na região, que concentra quase 27% dos eleitores.

"CiroDireito de imagemREPRODUÇÃO FACEBOOK CIRO GOMES
Image captionEnquanto PT ficou sem candidato, Ciro concentrou agenda no nordeste, o que parece ter surtido efeito em sua intenção de voto

A pesquisa indica que a ofensiva feita por Ciro Gomes no Nordeste vem surtindo efeito. Na região, o ex-governador do Ceará chega a 20% das intenções de voto, o melhor desempenho entre todos os candidatos.

Desde que Lula teve a candidatura impugnada pelo TSE, há 10 dias, o candidato pedetista buscou aproveitar o vácuo e concentrou suas atividades de campanha na região. Passou de 14%, em cenário sem Lula, para 20%. Os números sugerem que Ciro é hoje o principal beneficiário na região da saída de Lula do páreo. No último cenário em que o ex-presidente estava na disputa, Ciro alcançava apenas 5% das intenções de voto entre os nordestinos.

"O PT perdeu um pouco o timing, deixou Ciro solto no nordeste e ficou insistindo no Lula, mas o eleitor já sabe que ele não será candidato. Então, isso cansa um pouco o eleitor e o leva a prestar atenção em outros candidatos", diz Hilton Fernandes, professor da Faculdade Escola de Sociologia e Política.

Ainda assim, a parada está longe da vitória para Ciro na região: 46% dos eleitores nordestinos admitem que seu voto pode mudar e 52% deles afirmam que votarão com certeza no candidato que Lula indicar. No nordeste, Haddad passou de 5% para 13% nas últimas três semanas. Ele foi confirmado na tarde desta terça-feira como o substituto de Lula.

Por outro lado, Bolsonaro é o candidato a enfrentar a maior dificuldade na região: 51% dos eleitores nordestinos dizem que não votariam de nenhuma maneira no ex-capitão.

Marina é a que mais pode 'desidratar'

Se já acumulou a maior queda entre os presidenciáveis nessa nova rodada (de 16% para 11% das preferências), Marina Silva pode ainda esperar por dias piores.

Isso porque os eleitores da candidata da Rede são os que menos estão convictos de sua escolha, entre os cinco primeiros colocados na sondagem.

Nada menos que 71% dos entrevistados que disseram optar por Marina cogitam mudar de voto. No polo oposto, 74% dos eleitores de Jair Bolsonaro se dizem totalmente decididos.

"Vai ser difícil ela recuperar. Marina tinha um recall muito grande por ter participado das duas últimas eleições, mas quando colocada diante de questões controversas, ela diz que vai perguntar ao povo, o que expressa uma fraqueza e impede o eleitor de concordar ou não com ela. Além disso, construiu uma estrutura partidária muito frágil e suas aparições na TV demonstram um certo amadorismo", diz a cientista política Maria Hermínia Almeida, da USP.

Especialistas citam como exemplo dos problemas de Marina uma das peças propagandísticas em que ela entra em cena carregando uma cadeira e sentando-se, enquanto aparece na tela da TV a seguinte frase: "Marina é corrupta?". Ao que a candidata responde apenas "não".

"É ridículo e não faz sentido com nada do que sabemos de comunicação com o eleitor nem com o momento", diz Fernandes.

Quando perguntados sobre suas opções de voto útil, os eleitores de Marina migrariam para pelo menos 4 candidatos.

"Mas os maiores beneficiários tendem a ser Ciro e Haddad", afirma Almeida.

49% dos eleitores votariam com certeza ou poderiam votar no indicado de Lula

Com um número expressivo de eleitores dispostos a votar em um indicado pelo ex-presidente petista, era de se esperar que Haddad surgisse em patamar muito superior aos 9% de preferência que ele apresenta, o que pode acontecer caso a transferência de votos se concretize.

"HaddadDireito de imagemREPRODUÇÃO FACEBOOK FERNANDO HADDAD
Image captionHaddad terá que revester o potencial de transferência de votos em preferência eleitoral até outubro

No entanto, o número de eleitores que já sabe que Haddad é o candidato de Lula mais do que dobrou de meados de agosto para agora, de 17% para 39%, o que sugere que o eleitor já dispõe de informações e pode ainda estar avaliando a adesão ao petista substituto.

"Existe o potencial de transferência, mas ela não é automática. Agora o eleitor sabe que tem o Haddad, mas nas pesquisas qualitativas começa a surgir o medo, do eleitor que já votou em candidato do Lula e se decepcionou. Já tem eleitor perguntando: 'será que agora vem o Dilmo?' Então o desafio do Haddad vai ser vencer essa desconfiança", diz Fernandes.

 

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