2017-11-17 18:03:00
O pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda, delator da 5ª fase da Operação da Lama Asfáltica, denominada Papiro de Lama, se comprometeu a devolver R$ 3 milhões, em seis parcelas, a título de ressarcimento. A delação premiada foi assinada no último dia 14 de agosto.
Além disso, se condenado, Ivanildo poderá cumprir a pena em casa e sem tornozeleira eletrônica. Com base nas informações da delação premiada, a Polícia Federal prendeu o ex-governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), e outros três suspeitos, incluindo o filho dele André Puccinelli Júnior. Todos já estão em liberdade por liminar do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3).
Ivanildo delatou sobre os fatos praticados entre 2006 e 2013 em coautoria com ex-governador e pessoas a ele relacionadas, quando trabalhou de operador de campanha para o peemedebista. O pecuarista disse às autoridades que Puccinelli ficava com 30% do valor do benefício concedido às empresas.
Além de contar o que sabia, Ivanildo entregou documentos, e-mails e planilhas para comprovar o que estava sendo dito. Entre os documentos, foi entregue o diário de bordo do avião do empresário, usado várias vezes para transportar dinheiro recebido de empresários. Também foi repassada a agenda da secretária onde eram anotados os compromissos de Puccinelli. Os encontros com o pecuarista eram marcados "amigo" ou "Ivan".
O empresário procurou a Polícia Federal, voluntariamente, durante o período de varredura de documentos. O acordo poderá ser revisto ou anulado se Ivanildo tiver omitido alguma informação ou alguma prática criminosa.
Papiros de Lama
Segundo a investigação da Polícia Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e Receita Federal, o ex-governador André Puccinelli é apontado como chefe de um esquema de propina existente há mais de 10 anos em Mato Grosso do Sul. O montante de desvio comprovado, até o momento, é de R$ 235 milhões, conforme divulgou o delegado da PF, Cléo Mazzotti.
O delegado explicou que o ex-governador mantinha as operações com empresas envolvidas na lavagem de dinheiro.
Além das prisões, o ex-secretário-adjunto de Fazenda André Luiz Cance e os empresários João Amorim, João Baird, Mirched Jafar Júnior, Antonio Cortez e João Mauricio Cance foram levados coercitivamente para depor na sede da Superintendência da Polícia Federal da capital sul-mato-grossense.
Também foram cumpridos mandados em Nioaque e Aquidauana e em São Paulo, além dos 24 de busca e apreensão.
Desvios
A investigação apontou que os recursos eram desviados por meio do direcionamento de licitações públicas, superfaturamento de obras públicas, aquisição fictícia ou ilícita de produtos, financiamento de atividades privadas sem relação com a atividade-fim de empresas estatais, concessão de créditos tributários com vistas ao recebimento de propina e corrupção de agentes públicos.
De acordo com a PF, a propina era mascarada de diversas formas. Uma delas, era a compra, sem justificativa plausível, de obras jurídicas, por parte de empresa concessionária de serviço público e direcionamento dos lucros, por interposta pessoa, a integrante do grupo investigado.
O chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) em Mato Grosso do Sul, José Paulo Barbiere, disse que os suspeitos deverão devolver cerca de R$ 22 milhões na forma de GRU [Guia de Recolhimento da União]. De acordo com ele, o valor é mais um prejuízo que foi causado ao funcionalismo público.
As apurações, com a quebra de sigilo fiscal e bancário, mostraram um patrimônio dos envolvidos avaliado em R$ 160 milhões.